Passagem de Gaúcho pelo Fla teve promessas, desencontros e só um jogo
memorável
Meia
nunca transformou-se no fenômeno de marketing que o clube esperava e agora
exige pagamento de dívida milionária.
Desencontros, polêmicas e confusões. Ao entrar na Justiça contra o Flamengo,
nesta quinta-feira, Ronaldinho Gaúcho coloca, em seu último ato pelo clube, os
mesmos ingredientes que povoaram sua passagem pelo Rio desde a chegada, em
janeiro de 2011.
O jogador, que foi eleito o melhor do mundo em 2004 e
2005, sai do clube pelas portas dos fundos, reclamando de salários atrasados e
direitos de imagem uma dívida com valores que chegam a R$ 40 milhões. Sai sem
deixar saudades para a torcida ou dinheiro nos cofres da equipe; sem um jogo de
despedida ou pedidos para que fique.
O Flamengo sai dos 17 meses com
Ronaldinho pior do que entrou. No fim de 2010, o clube da Gávea venceu uma briga
de três pontas, com Grêmio e Palmeiras. Uma disputa que ficou marcada pelas
incontáveis reuniões e promessas do irmão e empresário do jogador, Assis.
Vencedor da batalha uma das maiores novelas do futebol brasileiro o time
carioca anunciou o jogador como salvador da pátria.
Quando um Ronaldinho
emocionado disse, com a voz embargada, "agora eu sou Mengão", os torcedores que
estavam na apresentação, na Gávea, foram à loucura. Os departamentos de
marketing e futebol do clube, também. Ronaldinho surgiu como a solução de todos
os problemas. Seria o ídolo e em campo e a solução fora dele.
Mas, quase um ano e meio após a chegada messiânica, Ronaldinho nunca foi o
fenômeno que o clube esperava. Em campo, foram 70 partidas, 28 gols, 19
assistências e um título, o de campeão carioca de 2011. Atuações memoráveis, com
a grife de quem foi o melhor do mundo, apenas uma, no histórico 5 a 4 sobre o
Santos, na Vila Belmiro. Foi o bastante para ser chamado a voltar para a seleção
brasileira, do técnico Mano Menezes.
Foi fora de campo, no entanto, que
o jogador decepcionou ainda mais. Ronaldinho não se empenhou para virar a cara
ou "o cara" de marketing no Flamengo. A falta de esforços era visível também nos
treinos. Conhecido por animar o ambiente nos clubes por onde passou, o jogador
tornou-se, nos últimos meses, uma figura soturna, quase uma sombra do farrista
que sempre se destacou pelo bom humor nas concentrações.
Nas últimas
semanas, a crise agravou-se ainda mais. O primeiro episódio aconteceu em uma das
lojas do clube, no Rio. De acordo com relatos de funcionários, Assis teria
entrado no estabelecimento e enchido uma sacola com artigos do clube. O irmão e
empresário de Ronaldinho teria dito que não pagaria pelos produtos, alegando que
o clube não pagava os salários do atleta.
No sábado, Ronaldinho fez a
última partida pelo Flamengo. Marcou um gol de pênalti, o sétimo neste ano.
Deixou o campo aos 30 minutos da segunda etapa, vaiado pelos torcedores, que
depois cercaram o carro do atleta, cobrando mais empenho e melhores atuações.
Depois do episódio, Ronaldinho nunca mais foi ao clube. Com a anuência
da direção, ele foi a Porto Alegre, acompanhar a mãe Miguelina, que estava com
um problema de saúde. O gaúcho não foi aos treinos na terça e na quarta-feira;
depois, perdeu o embarque do clube para Teresina, onde a equipe disputaria um
amistoso. Na ocasião, Zinho ex-jogador e atual diretor de futebol admitiu
que não conseguira falar com Ronaldinho.
Na manhã desta quinta, o
vice-presidente de futebol do clube, Paulo César Coutinho, afirmou a torcedores
no Piauí que o jogador já estava afastado. Depois, voltou atrás. Mas o destino
da parceria entre Ronaldinho e o Flamengo já estava selado. Agora, o futuro do
ex-melhor jogador do mundo está nas mãos da Justiça.
"O Ronaldinho não é
mais jogador do Flamengo, o contrato dele foi rescindido judicialmente. Com
relação a valores, eu não posso falar por conta do segredo de Justiça. A liminar
não diz nada com relação a valores. O Flamengo já está sabendo: meia hora antes
de eu ir lá a liminar já estava com o clube", explicou a advogada Gislaine Nunes
ao 'SporTV'. "Agora nós estamos cobrando valores altíssimos para fazer isso,
valores milionários e valores que o atleta tem direito por força de
contrato".
"Geralmente os contratos de imagem são usados para burlar
previdência, impostos e encargos trabalhistas. Conseguimos o reconhecimento, e
então o juiz conseguiu acatar nossa tese, libertou o atleta e agora ele está
liberado para seguir a vida de dele", concluiu.